terça-feira, 27 de julho de 2010

daMutabilidade II

A invenção nasce da mistura, da metamorfose entre o conhecimento que se possui. O conceito de mutação, transformação remete para a fluidez, algo que existe em movimento. A obra visual pode ser pensada enquanto determinado estado de suspensão.
A necessidade psicológica ou capacidade criativa de atribuir formas concretas a imagens abstractas é também motor de interesse. O Homem tem como tendência auto-projectar-se no mundo que o rodeia e reconhecer em algo, aparentemente comum e banal, imagens próprias. As imagens são usadas como estímulo ao surgimento do desenho.
O tempo é pensado activamente: enquanto esperamos estamos sujeitos ao passar do tempo e o que fazemos com esse tempo é variável. A criação é sempre uma afirmação, uma tentativa de sublimar.
A gravação, a descrição por meio da linha fazem-se como tentativa de evitar o desvanecimento da memória.
A memória como evocação do passado, refere-se também à acção do Tempo sobre nós. Segundo Marcel Proust, a memória é a garantia da nossa identidade, uma vez que reúne o nosso passado ao que somos. É inseparável da consciência do tempo, da sua percepção como algo que escoa ou passa. O tempo implica sempre uma duração limitada, uma oportunidade de vivência. A memória e a própria criação artística são uma afirmação de existência.
A memória faz parte dessa consciência. Esquecer, é sempre perder alguma coisa. Por outro lado o esquecimento é também necessário ao equilíbrio psicológico. A memória é uma das formas fundamentais da existência humana, fundamental para a individualização e identidade. A ligação entre o desenho e a memória é forte, uma vez que ele serve como registo. Daqui pode-se depreender uma espécie de sentimento de posse sobre o motivo. 


Ana Neves

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